sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Voyerismo Romântico

Almoçando sozinha.
Amigas na mesa a frente - seus 20 e poucos ou 30 anos - que não se encontram há algum tempo.
Relato sobre o fim de relacionamento.
Uma fala, a outra almoça e ouve.

Ela diz: queria alguém pra chegar em casa e encontrar bem, mas ele só me fazia sofrer.
Eu nunca sabia o que se passava na cabeça dele. (...)

Ela fala sobre todas aquelas coisas que eu já vivi, sobre os desacordos, desventuras e desarranjos, posse, ciúme, sobre expectativas e o atrito (ou ausência de) no mundo individual de cada um.

Nós mulheres temos uma fixação por saber de tudo e achamos que o que não está preso à nossa órbita está na órbita de outra, crescemos com algumas obsessões, a maioria voltadas ao universo exterior ou do parceiro, já fui assim e me libertei desse conceito, nem sei se por conta dos meus catárticos 40 ou por lampejo de nexo, mas aposto no tempo que transforma tudo em experiência.

Daqui na minha análise de ouvinte/voyeur percebo apenas o mundo particular de cada um, dele e dela, sem atrito. Ela relata sobre o tempo que ele passa no console, sobre quando não quis ir a balada, sobre quando não dormiu de conchinha a noite toda....E não entendo como as pessoas imaginam que sucesso num relacionamento é excesso de fricção emocional e jogos, na realidade somos sozinhos e por vezes nos conectamos. Essa é a lindeza da coisa toda: momentos de afinidade e troca dentro desse link eventual.

Todo esse dever de aceitar e impor acordos está fadado a discordância que vira o ápice de um "desamor" e esta é a mentira primordial: obrigação de manter vínculo é desamor por si, logo pelo outro. 
Não é mandatório concordar, tampouco anexar cada pedaço de rotina a do outro, mas trazer experiências individuais e intransferíveis de fora para dentro quando esse canal existir e estiver disponível.

E a expectativa que tanto já se falou sobre, ela é a mãe de fantasias, fantasmas e ilusões. Seguimos em massa alimentando esse monstro com balinhas de romantismo hollywoodiano.

E então continuo aqui ouvindo com vontade de me meter no assunto: Hey moça, pare de sofrer, se goste, se respeite, se entenda, esteja inteira para que valorize o silêncio do outro (quando ele estiver jogando Halo) esperando o mesmo respeito pelo seu (quando estiver assistindo a Kefera no Youtube).

Minha experiência segue pensando por mim na minha mente, admirável maturidade que compensa a falta de tônus muscular.
Aos 41 anos começo a entender por que de fato a vida começa agora, e por que hoje estou verdadeiramente mais acompanhada de mim do que de um outrem qualquer.

Ouço, penso, e dá aquela preguiça...logo desconecto a atenção para pensar em algo mais inédito e produtivo.

Os transeuntes na janela atrás da mesa onde as amigas conversam já me parecem mais interessantes, e o Ninbu Paani está adorável. 


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