sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Voyerismo Romântico

Almoçando sozinha.
Amigas na mesa a frente - seus 20 e poucos ou 30 anos - que não se encontram há algum tempo.
Relato sobre o fim de relacionamento.
Uma fala, a outra almoça e ouve.

Ela diz: queria alguém pra chegar em casa e encontrar bem, mas ele só me fazia sofrer.
Eu nunca sabia o que se passava na cabeça dele. (...)

Ela fala sobre todas aquelas coisas que eu já vivi, sobre os desacordos, desventuras e desarranjos, posse, ciúme, sobre expectativas e o atrito (ou ausência de) no mundo individual de cada um.

Nós mulheres temos uma fixação por saber de tudo e achamos que o que não está preso à nossa órbita está na órbita de outra, crescemos com algumas obsessões, a maioria voltadas ao universo exterior ou do parceiro, já fui assim e me libertei desse conceito, nem sei se por conta dos meus catárticos 40 ou por lampejo de nexo, mas aposto no tempo que transforma tudo em experiência.

Daqui na minha análise de ouvinte/voyeur percebo apenas o mundo particular de cada um, dele e dela, sem atrito. Ela relata sobre o tempo que ele passa no console, sobre quando não quis ir a balada, sobre quando não dormiu de conchinha a noite toda....E não entendo como as pessoas imaginam que sucesso num relacionamento é excesso de fricção emocional e jogos, na realidade somos sozinhos e por vezes nos conectamos. Essa é a lindeza da coisa toda: momentos de afinidade e troca dentro desse link eventual.

Todo esse dever de aceitar e impor acordos está fadado a discordância que vira o ápice de um "desamor" e esta é a mentira primordial: obrigação de manter vínculo é desamor por si, logo pelo outro. 
Não é mandatório concordar, tampouco anexar cada pedaço de rotina a do outro, mas trazer experiências individuais e intransferíveis de fora para dentro quando esse canal existir e estiver disponível.

E a expectativa que tanto já se falou sobre, ela é a mãe de fantasias, fantasmas e ilusões. Seguimos em massa alimentando esse monstro com balinhas de romantismo hollywoodiano.

E então continuo aqui ouvindo com vontade de me meter no assunto: Hey moça, pare de sofrer, se goste, se respeite, se entenda, esteja inteira para que valorize o silêncio do outro (quando ele estiver jogando Halo) esperando o mesmo respeito pelo seu (quando estiver assistindo a Kefera no Youtube).

Minha experiência segue pensando por mim na minha mente, admirável maturidade que compensa a falta de tônus muscular.
Aos 41 anos começo a entender por que de fato a vida começa agora, e por que hoje estou verdadeiramente mais acompanhada de mim do que de um outrem qualquer.

Ouço, penso, e dá aquela preguiça...logo desconecto a atenção para pensar em algo mais inédito e produtivo.

Os transeuntes na janela atrás da mesa onde as amigas conversam já me parecem mais interessantes, e o Ninbu Paani está adorável. 


sábado, 5 de setembro de 2015

O Bônus das Minhas Escolhas - Solitude com Sardinhas

Ok, feminista, sou. Fato.

E relembro que me percebi feminista por condição, e não por opção.
É tão condição quanto nascer em um gênero ou em uma raça.

Não, homem algum pode questionar negativa ou positivamente sobre o que é o meu feminismo: tem que nascer mulher pra tal, sangrar uma vez por mês durante quase quarenta anos pra isso. Fato.

Homem algum pode me questionar também sobre o porquê de eu ter escolhido estar desacompanhada. Fato.

Entenda, que depois de dois longos relacionamentos, de um coração locado por quase 20 anos (o que me dá uma boa experiência na questão), a minha solitude é, diferentemente do meu condicional, opcional.

Existem alguns mecanismos relativamente simples para uma mulher fomentar e manter o status de relacionamento com um homem. Quando digo acompanhada/namorando, veja que existem aí umas boas variáveis, é a principal a química.
Dada a química, se você cumprir um papel de certa submissão, de pseudo-fragilidade, se manipular o acesso ao sexo, se falar pouco palavrão, se fechar as pernas quando senta, se não tiver um poder igualitário ou superior na carreira, se se incluir num padrão estético e comportamental baseado numa cultura secularmente machista ou sexista, se você só for VOCÊ quando está longe do par, bingo. Fica mais fácil. Fato.

Se você, como mulher, priorizar sua carreira, o controle do controle remoto, cada decisão sobre sua vontade, sobre si no geral, sobre a roupa que usa, sobre o seu vocabulário, sobre os amigos que tem, enfim, difícil.
Se colocar no seu funil a escolha do homem que deseja ter ao seu lado, além da química, como alguém que te agrada, que não vai chamar suas peculiaridades de gênero de fraqueza ou de mimimi, que não é machista, bom, dificílimo, Fato.

E um salve às mulheres que encontraram O Parceiro pós um filtro!

Se, por opção, você se reservar à essas e às suas (suas, não da sociedade) escolhas, nível dificilíssimo.

Se na estatística, que não está a seu favor, encontrar um homem broad minded o suficiente, respeitoso ao feminismo, que tem a mesma química, que valoriza sua evolução feminina, que te apoia nas suas guerrilhas, que é tolerante aos seus valores, que gosta de ti como é, que entende a humanidade quanto à gênero e orientações, que é liberalista, de bônus é ateu/agnóstico, inteligente e aberto, pronto, aí começa uma conversa. Certamente esse homem está na Islândia ou na Dinamarca ou Suécia ou em um país com altíssimo IDH, logo, os resto dos seus dias tem a grande chance de serem você com você mesma, suas convicções e sua excelente própria companhia.

E a parte mais absolutamente fantástica na maturidade, depois de uma experiência de vida balizadora, é que você está consciente da realidade e de boas.

Colocando a geografia na equação, prefiro minha escolha de não estar acompanhada, senão por mim mesma, grata. Não vou me envolver com alguém com quem eu deixe de ser eu mesma me enquadrando em padrões puramente para que a sociedade me veja como uma mulher que mantém um relacionamento. Superei essa bobagem tipo 1950 no dia que tirei minha aliança do dedo, desde então houve candidatos, gongados, pois não aceito nada pela metade já que me tornei inteira. E além do mais o cotidiano profissional já me exige um preço por eu ser assim, e que pago com prazer.

Com vinho de padre e sardinha, com minhas maravilhosas cervejas belgas e meus cogumelos paris frescos, às sextas à noite, aos sábados, terças, quintas, quem decide sou eu, do altíssimo da minhas conquistas. Eu posso e trabalhei por isso.

Então, não questione a minha solitude ou a da mulher poderosa empoderada que for, pois sei quem sou, o que eu faço, e onde estou.
Fato.





sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Sou 1%

Sim, sou mulher:
Choro fácil.
Meus mamilos ficaram em carne viva e sangraram quando amamentei.
Sofro de tpm.
Sinto saudade de quando meu filho mexia no meu ventre.
Tenho dúvidas.
Assumo as dúvidas.
Abraço fácil.
Beijo fácil. 
Amo fácil e falo sobre.
Me emociono com a condição humana.
Dou esmola pra quem acho que merece a pinga ou o leite.
Mas sou 1% dos 51% que quebraram a arrebentação.
Sou gestora.
Empreendo.
Viajo e aposto na viagem.
Tenho quase 41 anos.
Sofro com o efeito do tempo.
Amo a maturidade que o tempo me trouxe.
Detesto minha celulite.
Abomino observar que meu tônus já era.
Acho minha flacidez gostosinha de pegar.
Sim, sou mulher.
Duvido da minha capacidade.
E acredito no meu talento em empreender.
Como.
E sinto culpa.
Bebo. 
E fico menos bêbada que a maioria dos humanos.
Eu pago minhas contas
Pago algumas contas dos outros.
Sou mãe.
E tenho crises maternas. 
Sou dramática.
Nem tão dramática.
Sou bem racional. 
Calculo.
Sinto culpa por calcular.
Amo ser calculista.
Eu amo e é assim.
Sou mulher. 
E todo dia enfrento um ambiente hostil.
Enfrento ainda aqueles que duvidam que esse mundo é hostil pras mulheres.
Mas sou mulher. 
Durmo de conchinha com o travesseiro.
Durmo horas depois de fazer planos.
Durmo e sonho com o melhor.
Por que mulheres são assim. 



segunda-feira, 27 de julho de 2015

Ele É A Melhor Coisa Que Me Acontece Todos Os Dias

Há 17 anos, numa segunda-feira como hoje, ele nascia.

Antes disso nada é tão claro na minha memória, tudo aparenta ser uma pré-vida, onde as minhas lembranças são meio vaporosas.

Antes dele, na minha gravidez, eram apenas dúvida e medo; eu não fazia ideia de como seria criar um outro  alguém, esse indivíduo que vinha sem nada, desnudo, totalmente dependente de mim. Eu temia por minha capacidade, eu temia por tudo que eu desconhecia.

Foi o ápice de percepção de existência e dali em diante o mundo virou um lugar absurdamente maior e a vida passou simplesmente a fazer todo o sentido, e assim segue. Ele é, ele está.

A vivência dele se misturou à minha, e eu me tornei duas almas e dois corpos.

Durante os primeiros anos tudo foi altamente natural, o que chamam de instinto, pra mim é um paraíso na terra.

Eu o amamentei com meu leite, o alimentei, eu o ensinei, o motivei a transpor cada pequeno desafio, fosse os primeiros passos, fosse o primeiro dia na escola. Anos depois o estava o apoiando no primeiro beijo, nas primeiras descobertas e nas análises e escolhas que vão ficando logicamente mais complexas.

Eu tive a sorte de gerar um ser, que mais tarde, de cuidado virou cuidador, hoje meu amigo, meu professor e meu parceiro. Me completa, me alimenta, me ensina e me apóia.

Apesar da trivialidade disso, ser mãe é uma experiência raríssima, parte quase certa da vida de uma mulher, é tão presente no ciclo da vida como é a morte, encarregada por todos os seres que andaram sobre esse planeta.

A maternidade não é nada demais, e ao mesmo tempo é tudo!

(Para o meu Antonio)







quarta-feira, 29 de abril de 2015

Ele foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida

"Este post é dedicado a uma amiga muito querida. Tó para tu."



Eu o conheci num balada qualquer, ao som da minha banda preferida, quando não fazia idéia de que um dia eu me envolveria com alguém novamente, isso era algo muito subjetivo. Havia pensado rapidamente que, sem grandes reflexões, ficaria sozinha e não me apaixonaria, estava adormecida e anestesiada, vazia de razão e cheia de planos e sonhos, lembro dessa fase como se fosse agora.
Eu era muito imatura, era irresoluta, nem sabia como inventariar o que eram os restos de um longo relacionamento anterior. Eu era muito jovem.

Ali estava, na minha frente, a antítese do que eu achava que me atrairia fisicamente num homem, e lindo na verdade, apenas lindo, que educada e irresistivelmente me pediu um beijo. Nem pensei, apenas consenti. "Beija" - eu disse.
A seguir daquilo, se instalou na minha vida, me disse tudo o que mulheres amam ouvir, agiu como mulheres supostamente acham que homens devem agir, e eu me iludi pela fraqueza de um romantismo, plantado na minha percepção por canais que, agora madura, reconheço todos.

Anos depois, muitos anos, aliás, estava eu na tristeza mais profunda que me lembro de ter sentido. Não era um instante triste, era o conjuro de todas as tristezas em uma só, um pranto sem fim que eu nem sabia que existia, inimaginável que tanta água podia minar de uma única pessoa por orifícios tão minúsculos!
Eu estava profundamente infeliz por tudo o que uma vida com ele representou e fez de mim; do meu ponto-de-vista, eu havia chegado na dor suprema.
Pra tirar essa conclusão, a gente já sabe arrolar os sentimentos...desabrochar da sensatez. Era chegada a hora, o início do processo de maturidade. Eu já tinha 37 anos.

Escrever sobre me lembra algo ilustrado num post qualquer do facebook que cita Freud e que li tempos depois: "Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda."

Ali, debruçada na janela da casa que alugamos na cidade estranha, agreste até meus ossos, lar da promessa quebrada, eu olhei pro céu e gritei dentro de mim - a voz nem saía de tantos soluços - "Troco tudo isso por sucesso profissional!"

Tudo o que eu tinha era meu trabalho; era um novo emprego, fresco, cheio de novidade, e a única coisa que me fazia acordar de manhã.
Porque nos meus trabalhos, desde jovem, sempre fui uma unidade, mas eu não havia me ligado disso até que o trabalho se mostrasse tão imperativo e terapêutico.
Ao longo daqueles anos, com aquele homem, eu era uma sessão de fragmentos confusos e desconexos, e constantemente levada a pensar que eu era bem menos do que um décimo. Eu sentia culpa, fracasso, me sentia um lixo. Um lixo com uma boa manutenção chamada de "segurança do casamento".

A mudança começou naquele ponto, quando de dentro de mim saiu o que me construiria. Eu nunca havia sido inteira, não tinha me apercebido que era o que realmente sou: mais.

Naquele lugar, um trapo e em frangalhos, brotou o vislumbre do que seria a missão de resgate, e que me norteia a vida há quase 4 anos: toda energia que eu coloco no outro deve antes passar por mim, e não sair de mim.
Essa energia, que no geral plantamos num lugar externo, como se construíssemos uma casa num terreno de outra pessoa. Castelos de areia que vão ser devidamente retomados pela onda, pelo vento, pelo tempo...

Foi o início de uma outra história de amor, e lugar-comum à parte, com todos os clichês devidamente aceitos, vestidos e incorporados: a história de amor comigo mesma.

Um novo exercício vem justamente do relato acima: eu notar que consegui as grandes conquistas de onde estavam situações altamente abrasivas e melancólicas, meus maiores sucessos se lançaram de dores, decepções e privações.
Posso citar a educação que dei pro meu filho e o valor ao/o amor que tenho por ele - minha gravidez foi um pesadelo emocional.
Posso citar minha própria ética e personalidade - antagonismo, forjadas por uma criação deficitária em uma família desfuncional.

Posso justificar minha independência, força, garra e foco pelo fiasco desse relacionamento que, sim, na altura me destruiu.

Então, moral da história: ele foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.





segunda-feira, 27 de abril de 2015

Adoramos uma Epifania Foda!

Não sei de vocês, mas eu adoro uma epifania. Tive algumas ao longo da vida, só que essa aqui, que justifica esse post, pra mim é foda, está sendo foda.

Pausa para nota-mental: 
Não preciso ser redundante explicando novamente o "porquê" da existência desse blog sobre minha crise de meia-idade e blablablá, né? Então tá. 
(É que eu tenho essa tendência prolixa.) 

Pois bem, tenho vivido dias interessantes, como se eu estivesse constantemente à flor da pele. 
Tudo isso meio que começou pontualmente aos meus 37 anos, e o ápice dessa coisa pelo visto está rolando.
Eu comparo esse movimento a morder uma pimenta e ter uma consciência profunda da ardência e do efeito avassalador no palato e na língua, os olhos ficam aguados por um tempo, logo vem a claridade e o exagero de lucidez do efeito. 

Dentre algumas percepções imediatas desse imenso processo inflamatório, uma certa percepção de poder que já foi citada aqui nos textos; já a outra, antagônica e incômoda, é a constante sensação de enjoo. 

É, eu pensava fielmente que estava a me enjoar de mim mesma e passei bons dos últimos anos um tanto mareada, com bodinho, me achando uma chata, e super irritada. Tá, tem os hormônios também....
Veja só, que num ato motivado até cortei uma cabeleira de 16 anos por conta disso! 
(Ok, confesso que o resultado desse ato meio frívolo está sendo adorável, aliás.)

Mas na real, é como se eu me impelisse numa limitação em apreciar o que eu normalmente fiz e gostei de fazer ao longo de toda uma vida. Imediatamente, quase como uma âncora, me joguei num hedonismo tremendo, e há uns 4 anos extrapolo naquilo que me dá mais prazer fútil e imediato, como comer e beber por exemplo.

Nova nota-mental: 
Vamos combinar que calorias alcoólicas numa mulher com galopante queda de metabolismo desencadeado pela "maturidade" (pleonasmo literário para minha aproximação do que eu costumo chamar de "velhice", mas somente entre amigos) é ainda bem danoso, dada a marcha emocional que assina esse blog....

Observação aos que analisam o que chamo não-filosoficamente de hedonismo - excluo dessas atividades hedônicas o sexo, e por motivos óbvios: eu não sou o tipo que aprecia sexo puramente carnal e casual, ele só acontece entre mim e alguém pelo qual estou (no mínimo) intelectualmente envolvida, logo nenhuma futilidade e nem de longe sexo entraria nessa lista, com um proclamado louvor, inclusive.

Todo esse falatório é para contar da epifania que experimentei hoje mesmo, quando subitamente me dei conta que estou enjoada, mas não bem da minha pessoa, e sim dos meus impulsos viciados e eternos. 

Nota-mental:
Óóóóó.

Nos últimos tempos vivi muitas situações que, mesmo na esquizofrênica apatia comigo mesma, me colocaram em contato com sentimentos fortíssimos e inéditos, então percebi que essa náusea não é comigo, mas com minha postura idêntica ao agir com as circunstâncias. 
Minhas escolhas e hábitos, o universo pessoal que eu conheço e onde venho fincando o pé, estão gastos. 
O hedonismo logo se revela um paradoxo, e digo incalculável, pois é impossível pra mim imaginar o que afinal vai resultar dessa revelação.

Venho vivendo de forma muito parecida há muito tempo. Mesmo com todos os altos e baixos da vida, e até aprendendo com a montanha-russa, reajo de forma similar continua e incessantemente, afinal, sou eu, a dona Danie de sempre. 
Daí então fica claro o que eu evitava, mesmo de modo tão involuntário: todo o arranjo da minha existência está esgotado. 
Não posso ser - nem sou mais - a Danie de sempre. Cadê teto? Cadê chão? Cadê zona de conforto? 

A realidade é que já passei bastante tempo achando que um vazio me amedrontava, e até isso me enjoou, assim suponho que seja o que for está mais para ser preenchido de tudo o que eu mesma ainda nem conheço? 
Muitas mulheres devem ter passado por isso, algumas não, não estou me julgando nada original aqui. Apenas acho que descobrir isso por mim mesma é, sem terapia, com hormônios louquérrimos e um cotidiano frenético, um feito significativo.

E se você achar pouco essa epifania aí, incluo nela uma inspiração fantástica: 
Isso, justamente o tal processo que eu tanto temo, que só começou com o lampejo da maturidade, ao que parece ser, se resolve em si mesmo!

Dada essa surpreendente iluminação, fica a minha dúvida, e o mais difícil e assustador desafio: e de agora em diante, o que que vai ser?




quinta-feira, 16 de abril de 2015

As Incríveis Pessoas Viciadas no Pior

Dadas algumas situações estressantes que vivenciei recentemente, me dei conta de que somos todos cercados, ou apenas somos mesmo, viciados em esperar o pior.

Seja o pior do outro, o pior do governo, o pior das relações, nesse movimento acabamos por liberar o pior de nós mesmos...Está faltando otimismo, está faltando realismo, está faltando amor?

Tenho fantasias utópicas onde cada um de nós se responsabiliza por suas escolhas, por sua percepção e entendimento sobre os eventos em nossa própria existência. Me esforço tremendamente, e está entre meus escassos predicados, o desenvolvimento da responsabilidade sobre meus acertos e sobre meus enganos, não é frequente cometer a insensatez de culpar alguém ou algo.
Quando aprendi a ser mais assim, minha vida deu um salto.

Desconfio que isso está em mim não como uma sabedoria milenar, mas mais como um tipo de vergonha na cara desenvolvido ao longo dos 40 anos nessa terra: acho feio, brega, de tremendo mau-gosto se eximir, procurar o problema no outro para maquiar o seu próprio, colocar a culpa em alguém... só mesmo preconceito e machismo pra superar essa atitude mesquinha, na minha humilde e pedantosa opinião.

Não, não é uma questão de culpa cristã, onde seremos sempre os algozes e os expiados, é somente a percepção integral de nossas escolhas.

Com exceção dos acasos, conseguimos observar à nós mesmos. É um outro exercício do cacete de difícil, é difícil demais nos livrarmos dos nossos hábitos, não colocar deliciosamente a culpa em alguém.

Isso tudo me faz voltar ao título: o pior.

Acho que vivemos nossos dias odiando demais, ou desgostando demais, pois olhamos mais para o nosso mal espelhado no resto da humanidade do que assumimos que os demônios são proprietários...
Me arrebenta o coração encontrar dentre pessoas que estimo super esse ônus do piorio, saca?
Isso mata em mim uma admiração que me é cara e que eu rego, fico péssima quando me dou conta que não posso regar aquilo que se revelou daninho, e a realização de estar cercada de passivos-agressivos, pessoas que enxergam nos demais as feiuras e ironias que nem às pertencem, me faz querer ainda mais me observar.

Esse post não é uma indireta, porque eu sou uma mulher de diretas...esse texto é como a maioria do que escrevo: um desabafo, um objeto de catarse, ou no mínimo um vômito.

Então fica aqui cravado em pixels mais uma das minhas reflexões: Sejamos profundamente responsáveis pelo eventual mal que destilamos gratuitamente por aí e que embutimos levianamente no outro.








terça-feira, 14 de abril de 2015

Dias Bons e Dias Ruins e Dias de Esvaziar as Putas das Gavetas

Tem dias e dias...

Grande merda, super lugar comum falar isso, sabedoria de folhetim, repetição de tudo que já ouvimos. Fato.
Nesses dias, quando não estou tão lá muito bem comigo mesma, TPM ou o escambau (chame do que quiser), eu consigo identificar claramente um dos pontos da minha crise dos 40.

Por que crise? Já me fizeram essa pergunta cretina...E aqui vai sua resposta idiota.
Já ouvi a negação, tipo nojinho: Ai, crise! Como se crise fosse patológico ou uma coisa feia, saca? Entenda, só existe "crise" para aqueles que refletem e pensam. Eu a-do-ra-riiiiii-a ser desprovida dessa capacidade, abençoada pela ignorância...
Quem não reflete, não se confronta consigo, não vai sofrer desse mal. Por outro lado, quem sublimar, não vai se resolver, e isso não é legal.
Se você "não tem crise", sorte sua, ou "não assume crise", problema seu. Quem se assume, faz terapia, pago pau, porque eu amo gente que não se envergonha de sua condição humana e que bate no peito das próprias loucurinhas .
Então, dando continuidade à minha linha de raciocínio, me deixa ter minha assumida crise dos 40, com licença, voltemos ao tópico.

Ponto do dia: A relação com o tempo vivido e o que acumulo e carrego dele.

Uma coisa é ouvir o mesmo provérbio uma vez... em algum momento - como agora, nesse exato instante no qual estou escrevendo mais um dos meus posts xaropes - me deu um bode macro de ter ouvido, falado, vivenciado as mesmas coisas zilhões de vezes.
Nada é muito diferente, eu vivo uma variação do mesmo tema, ouço basicamente as mesmas baboseiras, falo fundamentalmente as mesmas merdas, diariamente, há uns 25 anos...? Pois é, parece que hoje, do meu ponto-de-vista mais crítico do momento, sim.
Então decidi fazer um exercício:
Pense em encher uma gaveta durante 20 anos. É proporcionalmente diferente de fazer isso durante 30 anos e assim também durante 40 anos, certo?...
Pensou na putaria da gaveta?

Sempre me pego tentando arrumar essas caraglias, sempre avaliando o estado de cada memória, a data de validade de cada lição,  o valor de cada missão, e a parte mais sacal: tendo que me livrar dos sentimentos esfarrapados, dos sonhos puídos, comportamentos que já perderam o elástico, fora o discursinho pessoal baseado nisso aí citado acima, e na percepção e no reverb do acumulo dos outros...
Tive fases de largar de mão de deixar uma zona mesmo, tive outras fases (bem curtinhas) de tentar manter a porra toda um brinco, mas cada vez a gaveta está mais cheia, transbordando todo o tipo de tudo. Mesmo na tentativa de reciclagem eventual a minha tralha fica ali no fundo, a tralha vem em doações, e de algum modo eu me apeguei.

(Pqp, estou fazendo uma comparação entre minha cabeça e minhas gavetas...sem comentários, vergonha própria.)

Em resumo, estou toda entediada desse acumulo, de ver, ouvir, falar e repetir sempre a mesmice, tenho medo que jogar coisas fora e de dizer não pra certas coisas que doam pra mim, e sinto confortável usando estratégias velhinhas, estou enjoada de como uso essa tralha emocional, e cansada de mim e da preguiça que tenho de organizar a parada. Preciso fazer essa faxina.

E terminar esse post assim?
Bom, tem dias e dias...



sexta-feira, 10 de abril de 2015

O Interessante é o Novo Príncipe Encantado.

Desde meu divórcio confesso que certos sentimentos se tornaram comparáveis à fé religiosa pra mim.
Com o início da dissolução desarmoniosa do meu casamento deixei de acreditar no amor romântico, assim como não creio em deus.

Até o momento já consegui definir qual das duas descrenças causam mais revolta nas pessoas: a falta de fé no amor romântico ganha disparado, é odiosa! Então, vejam vocês, que as pessoas preferem mesmo fantasias.
Esse é, reforço, meu ponto-de-vista individual, polêmico (?) e intransferível.

Vamos lá, alguns dos meus auto-argumentos:
Amor romântico é uma reação química, libera substâncias viciantes (e pra mim a nicotina e o álcool tão de bão tamanho), o amor romântico é desculpa para crimes passionais, desliga muito da nossa racionalidade, gera (acho que um exagero) exaustivo esforço para cumprir expectativas alheias e próprias, causa desgaste, DR, ciúme, posse, frustração, decepção...
Posso afirmar que o amor romântico extrai a beleza notável da individualidade.

Aquele que disser que é 100% si mesmo num relacionamento romântico, aiiiiiiiiiiiii, olha, ou desconfio fortemente, ou assumo que vou invejar até me rasgar.
Existem relações legais, eu sei, essas  tem sempre um "que" de falta de romantismo e equilíbrio racional pra fundamentar, e estatisticamente deve ser mais difícil que acertar a mega-sena, e eu não costumo jogar.

Quando digo da minha falta de crença nesse sentimento romântico - veja, eu acredito para caralho no sentimento AMOR, mas não na sua forma embalada para enlaces românticos - muitos podem me julgar uma mulher amarga, síntese de tudo o que a Disney pintaria como a Cruela que mata filhotinhos, a bruxa que pisa em margaridas, alguém que deseja ver o mal dos outros, espalha azedume e enxofre pelos parques donde circulam os enamorados.

Quem me conhece e convive comigo sabe o quanto sou sinceramente amorosa. Amo demais, amo sem vergonha, amo efusivamente, meus amigos, as pessoas, as conquistas, os pequenos momentos, amo até os casais todos! Amo pelo simples ato mental e emocional.
Apenas não consigo viver mais esse delírio coletivo do mesmo jeito que não consigo rezar uma ave-maria, do credo à salve-rainha, apesar de saber de trás pra frente, não acreditando numa única sílaba. A ladainha romântica me causa o mesmo ceticismo.

O que sobrou nessa carcaça descrente, curvilínea e verborrágica? Aí vem a parte legal!
Porque a vida tem seu curso e suas lições, e a moral da história para aqueles que conseguem enxergar é simplesmente a construção de nós mesmos, dia à dia, episódio a episódio...

A parte final é que me tornei essa pragmática romântica, mas eu me Interesso!
Esse sim, sentimento substrato de efeito coerente, é a essência do que foi decantado das minhas experiências anteriores nas relações amorosas, é máxima do conforto, prova cabal, pressuposto. Esse virou o substituto saudável do que costumava ser o meu romantismo e seus efeitos colaterais desagradáveis.

Eu me interesso, e por ser algo genuinamente raro, carrega um tremendo significado quando ocorre.

Posso me interessar, e seguir a minha vida sem sofrer danos. O meu interesse é puro, não carrega cobrança, nem expectativa, nem frustração, ele existe por algo/alguém, porém é independente desse objeto. Esse interesse pode ter motivações químicas, estéticas? Até pode sim, e ser fugaz, mas ainda não conheci aquele que não brotasse de uma observação coesa ou admiração.
Meu interesse pode ser satisfeito, pode seguir, ser alimentado ou não, pode nem suceder.

Então voltando aos arquétipos do amor romântico, resolvi que o tal príncipe encantado existe:
sou eu montada em capa e espada sobre meu interesse...
Aquilo que me move rumo ao entendimento e conhecimento do outro,  sem flores, bombons, fidelidade, declarações piegas e escravidão emocional.


terça-feira, 7 de abril de 2015

O que vocês chamam de Feminismo, eu chamo de outra coisa....

Nem quero ser diferente, e na busca por me libertar daquilo que não concordo e desapoio, trabalhar como um "macho-alfa" (sic), falar palavrões como um estivador, ter minha opinião, lutar por ela, e fazer o que quero, me coloco numa margem interessante....
E a coisa física estética, então? Não me encher de botox, empinar o nariz ou a bunda, pintar os cabelos brancos, me violentar com atividades físicas que não aprecio pra tentar resgatar um tônus que não me pertence mais, acabo sendo ainda mais diferente da maioria, o que é bem desconfortável.
Olha, isso não é uma crítica à quem se dedica à essas atividades, juro! Minha crítica é para a sociedade que me faz sentir marginalizada por não perseguir padrões, senão os meus próprios, e isso é uma merda cansativa.

Acho que o desconforto é algo que na condição de Mulher, todas carregamos. Umas se dão conta, outras não, umas adoram isso que eu chamo de vaidade excessiva ou adaptação ao status quo masculino...
Bom, eu só posso definir como Feminismo a percepção sensível de Desconforto, logo a vontade absurda de se livrar dele. Pra mim isso é fundamentalmente o feminismo, simples assim.

Posso listar vários desconfortos, uns meus, uns seus, uns nossos e o óbvio é querer erradicar isso, falemos sério.

O tal machismo, o sexismo, ou simplesmente tudo aquilo que deixa nossa vida desconfortável, tão enraizado, tão encrustado que conseguiram até criar um ultra-machismo pra chamar nossa condição de fantasia e mimimi. Conseguiram até fazer brotar mulheres que acham que é isso ae mesmo, e não confrontam, como até balizam, essa situação.


Dada a minha história pregressa, e os desafios que enfrentei (alguns muitos deles simplesmente por ser mulher), posso dizer que conquistei uma posição super menos incômoda. Isso constitui Feminismo, idem. Lutar e fazer oque deve ser feito para que você esteja bem na sua pele, e isso, num coletivo, abre precedentes para que as demais estejam mais conformes.

Essa é minha humilde contribuição, praticamente anônima, para o Feminismo. Eu me insubordino todo dia às normas, às tradições, às vezes fraquejo quando sou segregada pelas minhas escolhas ou pela minha aparência, mas não volto mais ao status débil e precário de viver mais desconfortável do que divergente.




Um Brinde às Primeiras Vezes

Tudo nessa vida sempre teve uma primeira vez. Me orgulho de ter tido muitas, e de me jogar no ineditismo. Esse foi um post rápido no facebook, que apesar da casualidade diz muito sobre mim. Minha vida nunca teve muita pauta, nem planejamento, nem projetos, eu cresci assim, vivendo um dia depois do outro. Tive a sorte de uma certa ignorância, de saber improvisar nas horas mais urgentes. A maternidade a primeira vez mais legal de todas, porque além de ser uma coisa poderosa, que me modificou profundamente, me permite um saborzinho de primeiras vezes do meu filho. Eu sou uma mulher jogada, apesar de às vezes me borrar de medo, não deixo de experimentar, ainda.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

EmPODERamento

Tá na moda, tá no vocabulário, tá no fabulário geral, tá na mídia...
Mas essa palavrona, na vida, na minha prática, representa um bocado mais.
Eu já tive o blog apagado anterior que falava justamente sobre minha vida pregressa, e como me tornei, pelo andar natural das coisas e experiências vividas, uma feminista.
Nem vou falar do casamento que avalanchou sobre minha auto-estima, nem vou falar dos valores familiares e midiáticos que me moveram por anos, vou falar do que sou agora, nesse momento.

Sem usar a palavrona, vou contar rapidamente a história dos meus últimos 4 anos, e então terei, na prática e como exemplo, representado a palavrona sem nem mesmo utilizá-la.

Do nada, focada no que faço de melhor, construí um negócio bacana, que faz sentido e vem crescendo, gerei empregos, movi minha parte na economia, alavanquei o consumo, liberei toneladas de carbono, ou seja, gente grande, mulher grande. Eu gerencio tudo isso, e pronto, viro exemplo de mulher empoderada (sic).

O importante é que fiz isso entre os 37 anos e agora, porque antes eu estava cumprindo uma tabela. Anos antes eu estava perdendo tempo me rebelando contra as minhas tendências pessoais, profissionais e afirmativas, essas que me tiravam do eixo e caminho da tão cultuada feminilidade dócil. No fim, me entreguei pro meu lado mais combativo, e da ausência tremenda de identificação com uma princesa ou como uma amélia, acabei liberando em mim outra coisa, mais pra uma guerreira, pra uma Valkíria, sei lá.

Isso parece uma ode a mim mesma, e acho que até é, porque ainda agora, na minha rotina sucedida, me pego tendo pensamentos derrotistas, como se meu sucesso não fosse nada perto da lindeza de ter uma vida mais glamurosamente dependente e uma dedicação genuína a cultuar uma beleza frágil ou variações de personas que não admiro. Isso me lembra a épica frase do meu filho "queremos ser apreciados por aquilo que apreciamos em nós mesmos." Eu não sei se sou apreciada, como gostaria, mas certamente a premissa primeira já muito me alimenta.

Eu me olho no espelho, há anos e sob o efeito dos anos, e sempre vi um rosto mais forte, mais anguloso, mais marcante, mais fora do padrão, eu sempre vi no espelho o reflexo de quem sou, como força.

Tenho feito alguns exercícios dolorosos de desconexão com a mídia e com padrões macros estabelecidos, e sério, não é nada fácil, mas nessa minha decisão de ser a palavrona (e não somente usá-la), não vejo como poderia ser diferente.


quinta-feira, 2 de abril de 2015

Blogando mais uma vez

Não vou contar a história dos tantos blogs que criei, e apaguei. Já contei essa história...
Esse aqui, nascido Violenta Pré 40, achei que eu tinha perdido, mas foi ótimo ver que estava salvo!
Já me conformei que blogo a cada fase latente da vida, e em vez de manter, eu deleto, como fiz com meus diários, agendas antigas e muitos objetos que retém memória escrita e talhada.
Sou assim, não acumulo muitas coisas legíveis ou palpáveis, mas junto sim, dentro de mim, experiências e acúmulos e cúmulos de emoções e cicatrizes, e marcas, que nenhum pixel, tinta ou tipografia define. Isso sou eu.

Então pela enésima vez, começo novamente a blogar, como se eu precisasse de uma testemunha confidente que validasse que, apesar de caótica, a existência dessa fase da minha vida - e como me sinto nela - tem sua coerência.

Eu adoro essa palavra coerência, apesar da dificuldade genuína de aplicá-la integralmente, então já aproveito para confessar que não terá nada de jornalístico textual, essa coisa de conteúdo web hipster fugaz barulhento aqui. Isso aqui é escrito por uma mulher de 40 anos, e sobre essa crise movida pelo alcance do que essas décadas representa.

Ahh sim, porque acredite, ter 40 anos hoje em dia é bem diferente do que há 10 anos atrás, e certamente do que virá a ser em mais 10. Esse é meu primeiro post após ter completado essas 4 décadas...Demorei pra me sintonizar nos meus dramas e nas minhas realizações.

Reforço - Eu escrevo de forma autoral, na primeira pessoa, com opiniões e percepções individuais, não falo nem de longe pela maioria, ou por algum coletivo, nem por uma minoria. Eu sou, e serei, bem individualista/egoísta nesse espaço, tendenciosa regularmente, isenta eventualmente, descarada frequentemente, desbocada.
E já cheguei no ponto de que agradar não é importante, a não ser a mim mesma e minha necessidade imediata de registrar minhas pequenas lutas diárias cotidianas, agora. E isso fica escrito como na areia, sabe-se lá quando vou apagar esse blog também.