terça-feira, 10 de outubro de 2017

À beira dos 43 - Inferno com Gosto de Paraíso Astral

Raramente escrevo, já me queixei sobre isso nesse mesmo anuário aqui, e também já expliquei que escrevo em algumas poucas ocasiões que representem algum tipo de epifania.

Olha, não sei se fazer 43 anos (até porque esse blog se trata justamente da minha violência quarentista) significa algum tipo de revelação, mas que me aproximar dos 50 define muita coisa, ahhhhhhhhh, define.
Desde meu último ou antepenúltimo post nem tive a moral de escrever sobre uma viagem de 30 dias pela Europa com amigas fantásticas caminhando por Lisboa (minha cidade do coração) e revendo minha sobrinha-filhota, também sublimei a última, raríssima, autoinfligida e inventada decepção amorosa, nem falei do fim dramático e sofrido do empreendimento profissional que setei com o fim do meu casamento, tampouco falei dos 18 ou dos 19 anos do meu filho, não falei sobre o fim do meu relacionamento com a minha mãe e nem sobre tantas outras mil coisas que rolaram na minha vida. Foram muitos fins, pontos-finais, abreviações...

Não escrevi sobre isso tudo, é verdade. Fatalmente porque eu as estava vivendo, e essa é a grande epifania dos pós 40: fazer mais, sentir, digerir, falar menos.
Para cada acontecimento feliz, traumático ou marcante estava eu apenas vivenciando: o tempo parece passar absurdamente mais rápido, é meio urgente que a gente abra os olhos e aproveite os momentos com a paciência de um condenado á morte. Nada me parece tão inédito, e o que é um bocado mais incomum é conduzido com uma certa calma dalailâmica. Me parece que a maturidade é essa caralha de suportar as agruras com um tônus emocional que é mega forte e proporcionalmente inversa ao tanto que o da pele fica fraca.

Eu nunca refleti o bastante sobre o tempo (claro né? eu era jovem até 5 anos atrás!!), os arrependimentos que me corroeram, as coisas que não realizei, as mágoas, os abandonos, todos me soam exagerados agora. Vem um calorão da pré-menopausa, as contas pra fazer uma blefaroplastia...e na sequência aquele perdão e indulgência carinhosa comigo mesma: as paradas rolaram como tinham que ser, você é como deveria ser, você é fantástica. Que epifania seria melhor do que realmente acreditar de que Olhar para trás é uma perda de tempo do cacete?

Outro lance, não sei se sintoma ou reação adversa do tempo em mim, é o excesso de independência e amor-próprio. Até ano passado eu sentia até culpinha por não ter me aberto pra relacionamentos, me sentia em falta com com meu passado, sentia empelida a ter culpas que são sociais e coletivas, e milagrosamente há 2 ou 3 meses essa sensação desapareceu. Das lições mais importantes está esse individualismo afável de que coletivos destroem nossos ensinamentos mais significantes.

(...E enquanto escrevo esse post recebo a notícia de que uma amiga de quase mesma idade, mãe incrível, se foi dessa vida, agora a pouco, simplesmente vitimada pela fatalidade de existir. Isso só reforça toda a verdade que eu vomito nos parágrafos anteriores. É avassaladora a nossa condição, é um prêmio e uma derrota em si mesma, e a maturidade é a aceitação dessa premissa. Poly simplesmente vive eternamente enquanto os que a conheceram carregarem a existência dela...)

Enfim, em pouco mais de uma semana hei eu de completar 43 anos de caminhada nessa existência, não sinto nada parecido com um inferno quiçá astral, quiçá emocional, me sinto num paraíso onde a definição de paraíso é desconexo da percepção de outrem. O inferno pós 42 é um pedaço de paz, de plenitude...O meu paraíso é proximidade da morte quando pra outros isso é um inferno, e como niliista doce-de-côco só vejo a morte como um motivo fortíssimo para honrar a vida. Sinto amor.

Por Poly.